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Para Sempre Lilya | Crítica

<i>Para sempre Lilya</i>

02.12.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

Para sempre Lilya
Lilja 4-ever

Suécia, 2003
Drama - 109 min.

Direção e Roteiro: Lukas Moodysson

Elenco: Oksana Akinshina, Ardyom Boguchorsky, Pavel Poonacryow, Elina Benanson.

Chega ao Brasil mais um filme do sueco Lukas Moodysson. Para sempre Lilya (Lilja 4-ever, 2002) não é seu filme mais recente, mas com certeza irá tocar mais o público. Recentemente, o polêmico diretor chocou a platéia no Festival do Rio 2004 com Um vazio no meu coração (Ett hal i mitt hjärta, 2004). A produção era tão bizarra que nos pontos de venda dos ingressos e nos cinemas programados para exibi-lo, havia (pasme!) cartazes com avisos para os espectadores mais distraídos.

Em Para sempre Lilya, vencedor de diversos prêmios, o tema abordado também é polêmico, mas dessa vez Lukas preferiu não ser explícito e com isso conseguiu atingir os espectadores. É impossível sair da sessão sem pensar ou falar sobre a produção.

Nas primeiras cenas acompanhamos uma jovem perturbada e com hematomas correndo por entre automóveis. Ela pára em cima de um viaduto com a nítida idéia de que irá se jogar. Acontece um corte e o filme volta três meses e assim começamos a descobrir os motivos que levaram aquela moça a tamanho desespero. Ela é Lilya, uma jovem de 16 anos que mora num pobre e melancólico subúrbio em algum lugar da antiga União Soviética. Sua mãe se mudou para os Estados Unidos com o novo marido e Lilya espera que ela lhe mande dinheiro para viajar ao seu encontro. Quando não recebe nem cartas nem o dinheiro, fica claro que Lilya foi abandonada. Ela é obrigada a se mudar para um minúsculo apartamento sem luz ou aquecimento. Desiludida e sem dinheiro, a jovem se desespera. Seu único amigo é Volodya, um garoto de apenas 11 anos de idade que volta e meia dorme em seu sofá. Ela, então, conhece e se apaixona por Andrei, que a chama para começarem juntos uma nova vida na Suécia. Volodya desconfia que tudo acontece rápido demais, mas Lilya viaja mesmo assim.

Lukas posiciona a câmera de tal forma que sofremos todas as dificuldades ao lado da protagonista, mesmo não vendo as cenas. Tudo é feito implicitamente, mas de forma tão poderosa que comprova que a sugestão atinge mais que a imagem explicita. O sofrimento de Lilya é marcado por estupro, prostituição e violência. Oksana Akinshina no papel principal consegue uma interpretação digna de um Oscar. Artyom Bogucharsky também não fica muito atrás como Volodya.

A história relata que pais negligentes e instituições governamentais de auxílio ao menor são os verdadeiros responsáveis pela situação de Lilya e, claro, de milhares de outros jovens. O espectador tem a certeza que o mundo é cruel e que é habitado por homens e mulheres repugnantes. As crianças que existem são as vítimas dessa maldade. Não há momentos de redenção ou personagens ambivalentes.

Mesmo sendo tosco, em certas cenas Lukas cria imagens de pura emoção. Ele começou sua carreira como poeta e utiliza esse formato para construir seqüências artísticas misturando sonho com realidade. Em uma das seqüências mais belas vemos Lilya e Volodya retratados com asas de anjos num paraíso perpétuo. Com isso apresenta que a vida é o inferno e o paraíso é a liberdade.

O filme abre e fecha com "Mein Herz Brennt" (My Heart is Burning), uma canção poderosa da banda Rammstein. Com isso aprendemos que dissonância em vez de harmonia é o tema predominante e que bonecas, lápis de cor e bichos de pelúcia não farão parte da vida dessas crianças. A música é utilizada como uma intensificadora dessa característica durante o filme.

Como sempre as produções de Lukas Moodysson são atreladas com algum tipo de mensagem. No caso de Para sempre Lilya é dedicado às crianças que são envolvidas no tráfico sexual escravo. Às vezes até parece um documentário pelo crescimento dessa prática na Suécia, já que a legislação de lá só considera ilegal comprar sexo e não vender. Jovens russas e dos países bálticos viajam para a Suécia com passaportes falsos e promessas de casamento e trabalho, mas acabam encontrando seus piores pesadelos. Percebemos essa ênfase no filme quando os clientes de Lilya são filmados esbaforidos e em close no momento do coito. Parece um espelho da forma como a prostituição é encarada na Suécia.

Há também uma denúncia de que a globalização nos levou a um apetite frenético por mercadorias e comodidades, enquanto milhões de pessoas são abandonadas a uma existência amarga, em que as crianças são as vítimas mais vulneráveis. Os valores norte-americanos continuam sendo as maiores influências no planeta. Nos poucos momentos de alegria de Lilya, ela sonha em morar na América, conta com orgulho que nasceu no mesmo dia que a cantora Britney Spears e sua felicidade reside em lanchar no McDonalds. É triste, mas infelizmente é a realidade atual.

Nota do Crítico
Ótimo
Para Sempre Lilya
LIlja 4-ever
Para Sempre Lilya
LIlja 4-ever

Ano: 2003

País: Suécia

Classificação: 16 anos

Duração: 109 min

Direção: Lukas Moodysson

Roteiro: Lukas Moodysson

Elenco: Oksana Akinshina, Ardyom Boguchorsky, Pavel Poonacryow, Elina Benanson

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