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Os Vigaristas | Crítica

<i>Os vigaristas</i>

23.10.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Os vigaristas
Matchstick men

EUA, 2003 - 116 min.
Comédia

Direção: Ridley Scott
Roteiro: Eric Garcia (livro),
Nicholas & Ted Griffin

Elenco: Nicolas Cage, Sam Rockwell, Alison Lohman, Bruce Altman, Bruce McGill, Jenny OHara, Steve Eastin, Beth Grant, Sheila Kelley, Fran Kranz

Em Os vigaristas (Matchstick men, 2003), uma dupla de malandros entra em colapso quando um deles descobre que tem uma filha adolescente. Sujeito de lances discretos e pequenos, ele decide então planejar um grande golpe, para enfim largar o ofício e cuidar da menina.

Antes que você reclame - Mais um filme de bandidos bonzinhos e ações espalhafatosas?? -, atente para quatro nomes: Eric Garcia, Alison Lohman, Nicolas Cage e Ridley Scott.

O norte-americano Garcia escreveu o livro homônimo, publicado em 2002, que deu origem à película. É apenas o seu terceiro romance, mas o autor, nos seus trinta e poucos anos, manipula bem clichês dos thrillers-de-assalto, com as famigeradas reviravoltas - e os formata segundo os seus objetivos. Assim, o final-surpresa não parece descabido, mas encaixado com genialidade. E, principalmente, Garcia não legitima a ação dos ladrões. Eles não são cool. São perdedores que custam a entender que a vida não se resume ao dinheiro.

Cage assume caricaturas como ninguém, e no papel de Roy, o pai-vigarista, personifica muito bem esse perfil do loser, do perdedor. Hipocondríaco, não vive sem as suas pílulas. Quando as deixa de tomar, enche-se de tiques: gagueira e piscadelas incontroláveis. Além disso, não consegue sair de casa, passa o tempo todo polindo janelas e tirando manchas inexistentes do carpete. Essa meticulosidade produz golpes sem falhas, mas também transforma a vida de Roy num inferno com cheiro de lustra-móveis. Como o seu parceiro Frank (Sam Rockwell) é desencanado e atabalhoado, forma-se um equilíbrio perfeito.

A personagem de Alison Lohman surge para desequilibrar. Ótima atriz de 24 anos, lançada em Deixe-me viver (White oleander, de Peter Kosminsky, 2002), ela passa tranquilamente por uma rebelde de 14, graças ao seu físico frágil. Alison confere credibilidade à jovem conflituosa que foge da mãe para descobrir o pai e, por tabela, buscar o autoconhecimento. Sem essa verossimilhança, o filme não teria a mesma força. Afinal, o truque principal do roteiro é colocar as relações familiares num plano à frente da rotina dos larápios. E sem melodramas, diga-se de passagem.

Claro, cabe a Scott lapidar essas jóias. Se, no início de carreira, ele revolucionou a ficção-científica com Alien (1979) e Blade runner (1982), os anos 90 acompanharam um diretor afeito a embalagens bem definidas. Das lutas romanas ao cinema de guerra, do suspense à reconstituição de época, Scott deixou de ser sinônimo de originalidade, mas nunca de competência técnica. Esse padrão se repete em Os vigaristas: locações escolhidas com cuidado e visual apuradíssimo.

Assim, com o formato aliado ao conteúdo, a película atropela sem perdão os atuais pares do gênero, como Uma saída de mestre (The italian job, de F. Gary Gray, 2003). O que também não é muito difícil.

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