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Crítica

Mar de Fogo | Crítica

<i>Mar de fogo</i>

08.04.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Mar de fogo
Hidalgo

EUA, 2004 - 136 min.
Drama/Aventura

Direção: Joe Johnston
Roteiro: John Fusco

Elenco: Viggo Mortensen, Zuleikha Robinson, Omar Sharif, Louise Lombard, Adam Alexi-Malle, Saïd Taghmaoui, Silas Carson, Harsh Nayyar, J.K. Simmons

Filmes baseados em fatos reais sempre têm um atrativo extra. Se os fatos mostrados na produção realmente aconteceram, a aura de fascínio sobre a história aumenta e - consequentemente - a bilheteria cresce.

Entretanto, é do cinema hollywoodiano que estamos falando... e fidelidade aos fatos não é exatamento o forte por lá. Embelezar as aventuras e engrandecer a nobreza e coragem dos protagonistas é parte integrante do papel dos produtores, sempre de olho no que o "general audience", o famoso "grande público", gosta de ver nas telonas.

A discussão fica mais interessante ainda quando o suposto fato real pode nunca ter acontecido. E esse é o caso em Mar de fogo (Hidalgo, de Joe Johnston, 2004). Historiadores garantem que os eventos mostrados na aventura são totalmente imaginados pelo homem que supostamente os viveu, o caubói Frank T. Hopkins. Para completar, segundo a imprensa árabe, nem mesmo a corrida que dá título ao filme no Brasil aconteceu.

Na história, o vaqueiro torna-se o primeiro americano a competir na "mar de fogo", um perigosíssima corrida de cavalos puro-sangue com 3 mil milhas de extensão através dos desertos da Arábia. Montado em seu fiel Hidalgo, um mustangue (raça considerada impura na época), o cavaleiro enfrenta as agruras das areias escaldantes, enfrenta bandidos, encanta uma princesa, fica amigo do Sheik dos Sheiks e realiza atos de bondade incomensurável para os índios Sioux na sua terra natal.

Clichês da Arábia

Devia ser fácil enganar o público em 1890, ano em que se passa o filme. Hoje, é praticamente impossível. A Walt Disney Pictures bem que tentou, lançando um site cheio de dados "históricos" para o seu filme, mas foi rapidamente ridicularizada pelos pesquisadores.

Claro, isso não teria a menor importância se o filme fosse uma obra-prima. Afinal, o público está ali para assistir a um longa de ficção, não a um documentário. Mas nem assim a produção consegue empolgar. O exagero no embelezamento da história - que sozinha já seria suficientemente fantástica - transforma as mais de duas horas do filme em uma sucessão infindável de clichês, estrategicamente posicionados para tentar emocionar e fazer chorar no fim da fita. Também não ajuda a tentativa desesperada de evocar a grandeza de Lawrence da Arabia (Lawrence of Arabia, de David Lean, 1962) nos cenários, em algumas cenas inteiras, na escolha do principal coadjuvante e até mesmo na música.

Seria um desastre total, não fosse Viggo Mortensen (o Aragorn de O Senhor dos Anéis) - e sua interpretação contida do caubói Hopkins -, além da presença sempre marcante de Omar Sharif (que teve um dos papéis mais importantes de Lawrence da Arábia) no papel do Sheik dono dos melhores cavalos do Oriente Médio. Pena que nem mesmo os dois talentos combinados consigam salvar uma seqüência terrivelmente ruim, com 25 minutos (!), colocada bem no meio do filme. Nela, Hopkins e um espadachim eunuco fortão precisam resgatar sozinhos a filha do Sheik, mantida num covil de bandidos com direito a leopardos famintos, lutas e tiroteios... tudo isso enquanto a corrida está acontecendo. Péssimo.

Enfim, Mar de fogo poderia ser um grande filme se tivesse um grande diretor por trás das câmeras. Joe Johnston (Jurassic Park III) ficou claramente deslumbrado com os momentos "pipoca" do filme e esqueceu-se das partes que poderiam gerar um drama épico forte o bastante para prender a audiência e garantir boas críticas. O resultado é tão irregular quanto a coloração de Hidalgo, e olha que o cavalo parece que andou pastando por um campo de paintball...

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