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As férias na praia costumam concentrar alguns dos momentos mais significativos da infância e da adolescência. É lá que, geralmente, muitas experiências importantes acontecem pela primeira vez: beijos, paixões, baladas, bebedeiras... É também nestes dias de folga que as famílias passam mais tempo juntas, já que ninguém vai ao trabalho ou à escola. Sol, preguiça e a liberdade de fazer o que bem entender costumam fazer de cada dia de férias um dia memorável.
É este o universo de Chuva de verão (Rain, 2001), o filme de estréia da neozelandesa Christine Jeffs - que depois viria a dirigir Sylvia - paixão além das palavras (Sylvia - 2003). Tudo se passa ao redor de uma casa na pequena, clara e encantadora baía de Lake Taupo, na Nova Zelândia, construída para ser um paraíso familiar. Ali acompanharemos uma das férias de Janey (Alicia Fulford-Wierzbicki), de 13 anos.
Enquanto seus pais, Kate (Sarah Peirse, de Almas gêmeas) e Ed (Alistair Browning), passam as tardes ao sol entre livros e grandes copos de whisky com limão, ela cuida do irmão pequeno, Jim (o estreante Aaron Murphy). Passam a maior parte do dia juntos, longe dos pais, à procura de diversão e de novos pedaços de mar para as lições de natação. As noites são preenchidas por festas regadas a muita música e bebida, das quais as duas crianças pouco participam.
Além da praia
Contada sob o ponto de vista de Janey, a história vai além: fala de um casamento desgastado e de uma mãe omissa, que sofre com a idade e que luta para se sentir desejável. Fala de uma garota precoce, em conflito velado com esta mãe, e que está à procura de sua identidade e em plena descoberta da sexualidade. Fala também de um pai apaixonado e muito triste, que procura resgatar o interesse da mulher, sem saber muito como fazê-lo. Fala ainda de um garotinho doce e negligenciado, à procura do seu espaço nesta família cheia de conflitos.
É também uma história de mulheres fortes, geniosas e um tanto egoístas, que convivem com homens que não se importam de estar à sombra delas e que parecem mesmo desfrutar do domínio que elas exercem sobre eles.
Pouco acontece, como é característico dos dias de férias. A rotina de sol, mar e festas se repete dia após dia e é reproduzida pela diretora com sensibilidade e apuro estético. O ritmo imprimido aos acontecimentos permite que o espectador se aproxime dos personagens a tal ponto que, em determinadas cenas, tem a nítida sensação de fazer parte da história e de sentir o cheiro do mar, do peixe frito, da fumaça de cigarro e dos copos com restos de whisky, típicos dos fins de festa.
Tal aproximação tem seu ponto alto nos momentos em que Janey revela sua porção mais adolescente e menos criança, beijando um garoto de sua idade, bebendo sedutoramente do copo de um homem mais velho, escolhendo o lugar onde deseja ser fotografada. É arrepiante acompanhar a sua jornada ao local e a maneira como conduz o fotógrafo.
Seria perfeito se parasse por aí. Mas a evidente pretensão de não ser apenas mais um filme sobre o amadurecimento e a descoberta da sexualidade de uma garota precoce acaba por arruinar a experiência de quase epifania que se tem até ali. Algo inesperado virá marcar o fim das férias desta família e fará você sair do cinema em silêncio e com a sensação de que, na tentativa de se destacar, a diretora foi longe demais.
Ano: 2001
País: Nova Zelândia
Classificação: 12 anos
Duração: 92 min
Direção: Christine Jeffs
Roteiro: Christine Jeffs
