Filmes

Entrevista

A Hora do Pesadelo: Omelete entrevista o diretor Samuel Bayer

Estreante em longas-metragens fala do retorno de Freddy Krueger às telas

06.05.2010, às 17H47.
Atualizada em 28.11.2016, ÀS 22H07

O Omelete conversou com o diretor de videoclipes Samuel Bayer, que assina A Hora do Pesadelo, refilmagem do clássico de 1984. Antes de seu debute cinematográfico ele só havia assinado um curta como diretor, Max (2005). Em compensação, dirigiu ao menos um marco da história da música: "Smells like Teen Spirit", do Nirvana. Na entrevista ele fala sobre o trabalho no remake, seu estilo detalhista, os cortes que teve que fazer e suas ideias para o futuro.

Como está sendo esse processo para você? Primeiro grande filme, entrevistas...

A Hora do Pesadelo

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Samuel Bayer: Nada é o que você acha que será, ou o que você pode imaginar que seria. Fazer um longa-metragem foi provavelmente mais difícil do que eu imaginava. Eu digo isso para todo mundo, que fazer videoclipes e comerciais é um jeito incrível de entrar no ramo do cinema. Eu já trabalhei muito, mas fazer um filme foi... bem, tirou a minha vida de mim. Realmente demandou muita concentração e lembrar de manter meu foco no resultado final, na recompensa. Falar com você e ver outdoors por toda Los Angeles é um sonho que virou realidade.

Thomas Dekker contou que em uma das cenas havia uma pessoa vestindo uma camiseta com sangue e que você foi muito específico sobre a maneira como o sangue deveria estar aplicado. E que depois que acertaram isso fizeram vários takes. Ele comentou que você controla bastante o set, é extremamente detalhista. Você poderia falar um pouco sobre como foi isso para você? Como você criou essas pequenas coisas?

Eu fui pintor durante alguns anos anos de entrar no ramo do cinema. A direção de arte, fotografia e cores, a teoria das cores, todas essas coisas estranhas, que podem não ser importantes para algumas pessoas, são muito importantes para mim. Isso é um exemplo, a camiseta de Thomas Dekker. Tinha que ser a mancha de sangue certa para que fosse esteticamente agradável para mim na tela. Tanto pelo jeito que as chamas se acendiam no fundo ou coisas que não significam nada para outras pessoas, como a profundidade na cena ou o nível de foco, ou o tipo de lentes que usei, são todas parte do processo maior que faz um filme ter o visual que tem. E espero que esse filme tenha o visual Sam Bayer, se é que existe o visual Sam Bayer.

Acho que tenha. Uma das cenas que gostei foi a cena do supermercado, em que você fica cortando - não quero revelar nada ou fazer spoilers -, mas como você fica cortando entre realidade e sonho. Você poderia falar um pouco sobre essa cena e como foi a montagem?

É, a cena sobre a qual estamos falando - e que obviamente não vamos entregar pois espero que as pessoas fiquem admiradas com ela -, é um ótimo exemplo de como usar a tecnologia de um jeito muito esperto. Usamos a câmera de controle de movimentos, que é uma câmera pode repetir takes. Você coloca a câmera em um quarto, eu posso digitar um comando num computador e ele faz um movimento e posso digitar esse comando em outro cômodo e ele faz exatamente o mesmo movimento. Não é a tecnologia mais recente do mundo... Não é Avatar, é uma tecnologia que já existe há uns 15 anos, mas é um jeito muito eficiente de combinar cenas exatamente. Se o quarto é de um jeito em uma cena, eu posso duplicar essa geografia do quarto exatamente do mesmo jeito em outra cena. Colocando essas coisas juntas, ordene-as do jeito certo e tem um efeito muito hipnótico, que é uma coisa nova em um filme de pesadelo.

Eu estive no set do seu filme e assisti uma sequência com alguém sendo perseguido em um túnel. Vi o filme, claro, não lembro de ter visto essa cena.

Uma lição a ser aprendida ao fazer um filme é que nada é precioso. Existem cenas que eu filmei e que me orgulho muito da maneira como foram filmadas. A coitada da Katie Cassadity passou por momentos de terror filmando essa sequência que você mencionou. Mas, dito isto, o filme está melhor sem a cena. E você não aprende essas coisas até montar o filme. Acho que a versão bruta ficou com umas três horas...

Isso é outra coisa que eu queria te perguntar. Muitas pessoas adoram assistir aos filmes nos cinemas, mas agora com o Blu-ray e com home video e, sabe, com o fato de que os diretores têm a liberdade de pegar tudo que ficou na pia da cozinha e jogar em versões estendidas. Você é fã de cortes de diretor? A versão que está no cinema é a sua versão de diretor? E você consegue ver essas cenas que faltam em uma nova versão ou você sente que seriam melhor apreciadas como extras, uma compilação de cenas excluídas?

Sabe, se houver uma versão do diretor para esse filme, então eu falhei. O estúdio e os produtores são meus parceiros e são os caras que estão pagando a grana para eu fazer esse filme. E eu não acredito em versões do diretor... não, deixe-me retirar isso. Eu acredito sim, apenas não, para mim, neste filme. É o meu primeiro filme. Eu queria que esta fosse a versão da qual eu sentisse orgulho realmente. E eu sinto orgulho dela.

Claro. Mas estou curioso sobre o lançamento em home video. Você tem 10 ou 15 minutos de filme que não entraram nessa versão?

Existe um final alternativo para o filme que acho que os fãs vão realmente curtir. E que nós trabalhamos muito nele e Jackie [Earle Haley] está incrível na cena. Você consegue entender porque refilmamos. Eu gosto do que refilmamos, mas ficou muito bom da primeira vez, então é um grande salto criativo. É interessante para fãs de cinema para entender porque foi feito de certa maneira e porque nós fizemos de novo. Sabe, colocamos muito trabalho nisso que você vai assistir. Então são uns bons 10 ou 15 minutos de coisas que não estão no filme.

Como é para você dirigir pela cidade e ver os outdoors de A Hora do Pesadelo, literalmente, em toda parte?

É verdadeiramente empolgante. E a parte difícil disso é que não dura o suficiente. A première é amanhã à noite e o filme estreia este fim de semana e agora que está realmente acontecendo, está acontecendo rápido demais.

Eu sei que existem alguns... não quero dizer boatos, mas alguns relatos de que você possivelmente vai dirigir The Boys, ou outras coisas no futuro, outros projetos. Para você esse filme obviamente foi um aprendizado. Você passou um ano da sua vida nesse filme. Isso mudou a maneira como você vai olhar seu próximo projeto, já sabendo que vai passar um ano, talvez dois anos, no próximo? Isso está na sua cabeça? Você poderia falar se está pensando sobre o que vai fazer em seguida?

Essa é uma pergunta muito boa. E você está absolutamente certo. Já vi muitos diretores fazendo sua estreia com um filme forte e depois pulando muito rápido ao seu segundo projeto. Aceitam o segundo filme por todos os motivos errados. Eu quero ter certeza de que o próximo que eu fizer será o filme certo, porque é mesmo um longo período da vida. Você precisa ter muita paixão pelo filme porque você só vai falar dele, vai viver ele durante muito tempo. Mas antes disso, espero que as pessoas gostem desse filme e eles queiram me dar a chance de fazer outro...

Você dirigiu videoclipes por muito tempo, e agora esse filme. O que você acha tirou dos videoclipes que aplicou em A Hora do Pesadelo, e o que você aprendeu nesse que poderá aplicar nos próximos filmes?

Eu certamente penso que as atuações... Eu fui abençoado em ter aqueles atores para trabalhar neste filme. Acho que Jackie Earle Haley é O cara. Ter um ator indicado ao Oscar para interpretar Freddy Krueger... não dá para ficar melhor que isso. E Rooney Mara, Thomas Dekker, Kyle e Katie Cassidy. Esses garotos são incríveis. Então o que mais me importou nesse filme foram as atuações. E espero que as pessoas percebam quando assistirem ao filme que é baseado em performance. É uma questão de atuação, o que esses garotos entregaram para o filme, o que Jackie entregou para o filme. Então meu grande aprendizado para o próximo será esse: quem escolher para atuar, por que escolher e as performances que conseguirei. E se o roteiro é mesmo bom. E quanto aos videoclipes e comerciais, faz uns dois anos desde que dirigi um clipe, sabe? O ramo realmente não é mais o que costumava ser, há um bom tempo. E não tenho muita certeza se alguém ainda liga para videoclipes. A MTV não passa mais clipes, eles passam The Hills ou algo assim. Eu gosto de fazer comerciais, mas fazer filmes é definitivamente uma outra disciplina.

Última pergunta: você acha que The Boys ou Fiasco Heights ou algum desses vai mesmo ser seu próximo projeto? Ou você está mais voltado para ler muitos roteiros agora?

Eu definitivamente estou de olhos abertos para ler muitos roteiros, mas eu realmente gosto muito da natureza subversiva de certas histórias em quadrinhos, certas graphic novels que estão agora chegando aos cinemas. Eu era um fã de HQs quando criança, tenho uma ligação de muito, muito tempo, com elas. Mas me parece que Hollywood está apenas raspando na superfície das coisas mais ousadas que existem por aí e acho que Kick Ass - que eu realmente gostaria que estivesse indo melhor em bilheteria - é um ótimo exemplo de cinema subversivo. E para cada Homem de Ferro 2 - que será um grande blockbuster - deveria haver alguma coisa mais sombria e subversiva, como são as melhores graphic novels. Eu adoraria fazer a outra versão do Cavaleiro das Trevas, aquela com o Batman velho. Colocar Kurt Russell ou Clint Eastwood no filme. Seria incrível.

Basicamente, quando você está criando um filme de 150 milhões de dólares, ele precisa ser um filme para todos os públicos. E se você fosse fazer The Boys, talvez esse não seja um filme tão abrangente. Isso é uma algo que você está considerando? Muitas pessoas falam sobre como um orçamento menor traz mais liberdade criativa. Então você está pensando "se eu conseguir fazer esse filme por 20 ou 30 milhões eu poderia fazer para uma censura 15 anos, ou algo mais sombrio, eu provavelmente posso fazer o que eu quero fazer"?

Eu acho que é engraçado... como eu disse, eu era pintor. Um pintor que nunca foi aceito em uma galeria e existe um motivo para eu ter largado a pintura. E a razão é porque ninguém nunca viu meu trabalho. Se as pessoas não vêem seu trabalho, não existe motivo para pintar em primeiro lugar, é o que eu acho. Então o próximo filme teria que ser a combinação estranha de algo comercial o suficiente para que muitas pessoas queiram assistir, mas artístico o suficiente para fazer alguma coisa que se desvie da norma.

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