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Feira das Vaidades | Crítica

Feira das Vaidades

12.01.2006, às 00H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 16H05

Feira das Vaidades
Vanity Fair
EUA/Reino Unido, 2004
Drama - 137 min

Direção: Mira Nair
Roteiro: Matthew Faulk, Julian Fellowes, Mark Skeet, baseado em romance de William Makepeace Thackeray

Elenco: Reese Witherspoon, James Purefoy, Romola Garai, Jonathan Rhys-Meyers, Gabriel Byrne, Jim Broadbent, Bob Hoskin

A alta sociedade dos anos 1800 na Inglaterra é retratada no cinema de maneira cáustica. Aristocratas de alvas perucas frondosas e vestimentas cheias de babados pompeiam toda a sua educação em solenes chás e jantares. Mas na intimidade, quando tiram a peruca, com a careca surge a face verdadeira, hipócrita, aquela que fala mal de todos os seus semelhantes, que deixa os bons modos do lado de fora da banheira, transbordando de água suja.

A diretora indiana Mira Nair faz questão de perpetuar essa visão nada lisonjeira em Feira das vaidades (Vanity Fair, 2004), adaptação do romance vitoriano que William Makepeace Thackeray (1811-1863) publicou em 1848. A diferença é que as perucas continuam brancas, a água segue suja, mas os entornos se coloriram. Tecidos chineses, pinturas indianas, fauna africana, tudo o que de mais exótico o império importou de suas colônias, sufocam a vida cinza de Londres. Depois de consagrar-se mundialmente com Um casamento à indiana (2001), a própria Mira Nair assume o épico de Thackeray como uma extravagância, estranha no meio dos britânicos.

Vanity fair já teve meia-dúzia de adaptações ao cinema no início do século XX, inclusive uma indiana, em 1932. Deste então não reaparece nas telonas. A chance de ver como Nair se sai em uma megaprodução é também a chance de ver como uma indiana cosmopolita enxerga a cultura que um dia subjulgou o seu país. E que os ingleses sejam satirizados não é de se espantar. A novidade são as cores, os cheiros, as danças, os sabores, enfim, as estranhezas que reiteram o engessamento da aristocracia diante de um mundo desconhecido que vai além da porta da rua. Um mundo, por exemplo, que vai à Índia e na volta se deixa impregnar.

No livro e no filme existe uma síntese desse embate e dessa transformação: a plebéia, filha de pintor humilde e de dançarina francesa, Rebecca Sharp, ou simplesmente Becky (Reese Witherspoon). Independente, decidida, é a típica mulher à frente do seu tempo. A infância miserável incutiu em Becky o desejo de subir, subir até a vida de regalias que ela conheceu, quando pequena, na figura do Marquês de Steyne (Gabriel Byrne), que visitava a oficina de seu pai para adquirir quadros por pechinchas. Becky não poupa esforços para ascender. Fomenta intrigas, casa-se por interesse, engole inimizades - até chegar no cume, em Steyne. Uma vez lá, porém, ela descobre, como diria um folhetim, que "riqueza não traz felicidade".

Stanley Kubrick (1928-1999) provou em 1975, com a adaptação de Barry Lyndon, que a literatura de Thackeray se enquadra muito bem no cinema. O apego do autor à descrição de detalhes serve de guia, quase um story-board, a qualquer cenógrafo ou diretor de arte. O desafio não é dilatar, mas comprimir os relatos de Thackeray. E Vanity fair é um livro de novecentas páginas.

Com 140 minutos paulatinos de duração, ainda assim o filme de Nair demonstra alguma pressa. Passa-se ligeiro pelas três primeiras décadas do século XIX, aquelas prévias à Era Vitoriana, que incluem a Batalha de Waterloo em 1815 contra a França. E as tramas paralelas tomam tempo. A experiência semelhante da diretora em Casamento à indiana lhe permite essa escolha, a dos conflitos plurais, mas aqui ela não dá conta por inteiro de todos, alguns resultam superficiais, como o imbróglio entre Amelia (Romola Garai) e Dobbin (Rhys Ifans).

É difícil dizer se Feira das vaidades seria melhor com um roteiro enfocado apenas em Becky. Ganharia-se em coesão, mas é justamente o ambiente que define a anti-heroína. Sem esse painel sua personalidade seria menos profunda. É possível concluir dizendo que Vanity fair é um livro inadaptável em menos de três horas - e que nessa tarefa inglória Mira Nair não se sai mal. Sensível criadora de tipos humanos, sempre identificada com seus personagens, nunca inquisidora, ela enxerga em Becky um espelho, reflete em si a luta da mulher contra o status quo.

Nota do Crítico
Ótimo
Feira das vaidades
Vanity Fair
Feira das vaidades
Vanity Fair

Ano: 2004

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 127 min

Direção: Mira Nair

Elenco: Reese Witherspoon, James Purefoy, Jonathan Rhys Meyers, Romola Garai, Gabriel Byrne, Rhys Ifans, Jim Broadbent, Bob Hoskins, Eileen Atkins, Tony Maudsley, Douglas Hodge, Tom Sturridge

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