Filmes

Entrevista

Exclusivo: Omelete entrevista Louis Leterrier, o diretor de O Incrível Hulk - Parte 2

Diretor fala sobre o filme de Ang Lee, suas escolhas, favelas, marketing e uma cena cortada

13.06.2008, às 18H00.
Atualizada em 03.12.2016, ÀS 11H06

Leia aqui a parte 1 desta entrevista

Você poderia falar sobre as diferenças deste filme em termos de estilo, comparando-o como o anterior?

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A versão de Ang Lee?

Sim. Você tentou mudar tudo, como foi...

Eu adoro o filme de Ang. Gosto mesmo porque, como cineasta, e acho que vocês também sentem isso, é possível sentir o cinema no filme dele. É um ótimo filme. Mas se você tem 7, 8 anos fica totalmente perdido ali. Então minha intenção foi fazer deste Hulk um entretenimento mais geral. Você não precisa conhecer a história do Hulk para entender este filme - espero que meninos de 7, 8 ou 13 anos gostem dele igualmente. Então fomos mais genéricos em relação a ele. É um filme mais acessível. E foi isso que fiz. Meu caminho para fazer este não começou tanto nos quadrinhos, especialmente porque sou francês e a Marvel não era popular por lá quando eu era criança - eu lia Tintim. Mas eu conhecia bem a série de TV e quando eles me ofereceram o trabalho avisei isso, que eu não era grande conhecedor do Hulk. Mas aí fiquei lembrando das coisas que eu gostava na série e cheguei à conclusão de que era porque ele era muito humano. É muito simples. Era simplesmente a história de um homem fugitivo, atormentado pelos seus problemas. Era uma história de perseguição. Ele ia de cidade em cidade, sempre perseguido, tentando recuperar sua vida. Tentando se curar, se livrar dessa sua aflição. E ao longo dessa jornada acaba descobrindo o herói em si, essa coisa que não é tão boa, nem tão ruim. Então foi esse o ângulo que busquei e que me fez aceitar o trabalho. Mas nunca foi minha intenção fazer algo diferente só por fazer. Eu queria que o filme fosse complementar ao de Ang. O filme dele é o filme dele - e eu, como algumas pessoas - o adoro. Mas ao mesmo tempo não queria dar ao público um "mais do mesmo", então busquei algo diferente. Eu queria... e é por isso que ele não começa do começo [com uma origem]... começar com Bruce já fugitivo. Mas não é uma seqüência. É meio que um recomeço. É a versão de um outro diretor do Hulk. É isso.

Ouvi falar que a cena inicial, que foi incrivelmente bem montada, passou por várias versões até chegar à que vemos no cinema. Você pode falar um pouco sobre isso?

Oh, obrigado. Não fui eu que montei, então é por isso que ficou tão bom. O jeito que estávamos fazendo essa cena antes era através de flashbacks. O filme começava antes com Bruce Banner andando no Ártico. Você via um sujeito encapotado cambaleando, andando, caindo de joelhos, seguindo adiante. Aí ele olhava pra cima e dava pra ver o rosto barbado de Banner. Sua expressão é de cansaço, depressão... estamos alguns meses depois do acidente. E ele puxa uma arma e tenta cometer suicídio. Mas se transforma em Hulk. O Hulk o salva. O filme começaria assim e cortaria para a cena no Brasil. Mas ia ficar pesado demais. No Brasil ele está tentando seguir com sua vida, achar uma cura. Aquela cena acabou brevemente nos créditos iniciais. Aliás, todas aquelas cenas seriam introduzidas como flashback. Mas mostramos esse filme às pessoas e todo mundo odiou. Não dava pra entender se era uma continuação, uma coisa nova, nada. Então tomei a decisão de cortar tudo isso. Mas essa cena do Ártico espero que possamos colocar na Internet, em alta definição. Assim quem sabe ela possa ganhar vida própria, como um viral, não sei. Aí o filme ficou com aquela montagem, a introdução veloz, dando algumas pistas do que aconteceu. E lá tem várias surpresas, como o nome de Nick Fury e outras coisas. Eu adorei como ficou. Chamei Cal Cooper para fazê-la, o mesmo cara que fez as introduções de Homem-Aranha e Seven. Ficou maravilhoso.

E por que o Brasil? Por que as favelas?

Porque nós precisávamos de um lugar no mundo em que Bruce Banner pudesse realmente desaparecer. Não sei se você já foi a uma favela, mas é...

Tem uma certa beleza naquele caos.

Há muita beleza naquilo. É muito limpo e organizado. Eu fiquei surpreso. Eu achei que fosse me deparar com lixo por todos os lados, fezes, sei lá. Mas é muito limpo. Eles têm TV a cabo! É uma loucura e servia aos nossos propósitos de ter um lugar em que ele pudesse sumir. É um lugar um pouco à margem da lei, com tanta gente empilhada. Eu queria a Ásia antes, pensava em Hong Kong, mas aí soube que Batman estava indo pra lá. Então nos voltamos para as favelas. Levou um tempo para convencer a Marvel disso, um estúdio dos Estados Unidos, a ir para o Brasil. Porque pra eles, sabe, o Brasil é meio terra de ninguém. Você vai levar um tiro se for pra lá. E eu disse que não, pedi pra ir com minha equipe primeiro, sentir o terreno. E foi tudo tão agradável... Levei então as imagens que fiz e consegui mostrar como o lugar é seguro pra levar atores. Provei que estaríamos bem no Brasil. E tínhamos proteção. Nada aconteceu. O lugar funcionou muito bem dentro das nossas intenções de um mar de humanidade. Aquela panorâmica inicial não é computação gráfica. É nosso helicóptero sobrevoando a favela da Rocinha durante dois minutos. O lugar é imenso. É incrível.

Bom, esse filme tem um orçamento muito maior do que você está acostumado. Você se sentiu pressionado?

Não senti diferença. Sério. Sabe por que? Porque todo esse orçamento em excesso vai para os efeitos especiais. Então as minhas ferramentas para dirigi-lo foram essencialmente as mesmas. Ok, os atores são um pouco mais caros, mas o dinheiro pra filmar é o mesmo. Ou um pouquinho mais, para umas gruas de ponta ou outros brinquedinhos que eu gosto. Mas eu não tive um super salário - a grana toda fica com o departamento de produção. Vai um pedação com os atores, outro com os efeitos. Então é isso, é quase a mesma coisa. Há as mesmas cobranças, os mesmos problemas. E é engraçado, mas 150 milhões não são mais tanto dinheiro em Hollywood, especialmente porque o dólar está tão desvalorizado. Você chega a se sentir um filme pobre. Batman, Indy, esses filmes têm o dobro disso. Fomos filmar no Canadá e o dinheiro deles passou a valer mais que o nosso. A cada dia sumia dinheiro. Eu tinha que ficar olhando o orçamento pra ver se teríamos que cortar cenas com efeitos especiais ou coisa do tipo.

E de quem foi a decisão de mostrar tanto da luta final, aqueles spoilers, nos trailers?

Isso é coisa da Universal. Se fosse eu, não mostraria nada. Gosto que as pessoas descubram tudo no cinema. Mas é o jeito deles. E eu tenho que concordar porque é um filme complicado. É um filme que nasce meio problemático, porque todo mundo vai comparar com o filme de Ang. É um filme em que todo mundo estava descendo o pau há dois anos: 'ok, lá vem mais um Hulk - vamos vê-lo falhar". Mas quando os trailers começaram essa sensação foi diminuindo.

Perguntinha boba: O que é preciso para matar o Hulk?

Não muito. Ele quase morre no nosso, não? Acho que o ponto fraco dele é o coração. Ele é bom. E esse é o ponto fraco de todos os super-heróis. Seus sentimentos os deixam vulneráveis.

Qual foi a colaboração de Edward Norton para o roteiro? O que ele escreveu que está no filme?

Ah, o diálogo é definitivamente dele. E algumas outras coisas, como a mudança do namorado de Betty. Originalmente o personagem de Ty Burrell seria um filho da mãe. Mas agora ele é um cara bom que simplesmente cometeu um erro. Ed acerta muito nessas coisas, nos tons de cinza.

Agora que o filme está pronto, quais seus próximos planos?

Pela primeira vez na minha vida - e não estou exagerando - não sei o que vou fazer a seguir. Acabei o filme recentemente, estou sendo movido por coca-cola com redbull. Sem dormir direito há um tempão. Então não tenho lido nada, estou sem inspiração. E tem a iminente greve dos atores... É meio estranho. E estou numa espécie de limbo agora. Ninguém sabe ao certo se Hulk vai bem ou não nas bilheterias... vamos ver.

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