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Do Outro Lado

Em seu primeiro longa de ficção depois de Contra a Parede, Fatih Akin se rende à trama "inteligente"

03.07.2008, às 17H00.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 23H06

Não é difícil entender por que o roteirista e diretor Fatih Akin levou o prêmio em Cannes de melhor roteiro por Do Outro Lado (Auf der Anderen Seite, 2007). É uma típica trama à la Babel que chama atenção para sua própria engenhosidade em traçar pontes entre histórias paralelas.

O filme se divide em dois capítulos. No primeiro, em Bremen, na Alemanha, Nejat Aksu (Baki Davrak), um descendente de turcos, leciona alemão em uma faculdade local. E um caixão é desembarcado de um avião em Istambul. No segundo capítulo, Nejat retorna para a Turquia onde vira dono de uma livraria especializada em livros escritos em alemão. E um caixão agora é carregado em um avião em Istambul.

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É dessa mistura sem fronteiras de pátrias e culturas, permeada de morte, que Do Outro Lado trata. Contar mais do que isso seria não só desleal com o leitor, como desnecessário.

A certa altura uma personagem relembra que a Turquia está batalhando para ser aceita na União Européia. Akin adiciona aí um elemento factual que casa bem com a história de tolerância, solidariedade, perda, identidade e pertencimento que o cineasta - não por acaso um alemão de ascendência turca - está tentando contar. Uma bela história, essa. Se há uma ressalva a fazer ao filme, não é por sua opção de conteúdo, mas de forma.

Do Outro Lado é o primeiro longa de ficção de Akin desde o sucesso mundial de Contra a Parede, de 2004. No meio tempo ele assinou um curta na coletânea Visões da Europa e dirigiu o documentário Atravessando a Ponte - O Som de Istambul. O cineasta precisava, portanto, suprir as expectativas de todos como contador de história. Para aderir às tramas interligadas (e espetaculosas) da escola Iñárritu era apenas um passo.

E do mexicano Akin herda a discutível obsessão por colocar as engrenagens da trama acima dos personagens, de submetê-los ao peso dos mais pessimistas acasos. Dizer que Akin mata duas personagens deliberadamente não é estragar surpresas do filme. O próprio diretor começa cada um dos segmentos do filme anunciando, como num subtítulo, a morte das duas.

É como se quisesse amenizar o impacto da violenta gratuidade com que elimina as personagens pelas quais nos afeiçoávamos. Acontece que não dá pra tirar do bolso um Deus ex machina só pela metade. Ou se opta pela mão forte do narrador-manipulador ou se opta pelo naturalismo da câmera que segue a ação sem essa impressão incômoda e constante de interferência.

Do Outro Lado peca porque não consegue escolher um ou outro. A forma como Nejat viaja de trem ou carro, pedindo sanduíches de queijo e discutindo Goethe, tem a ver com trama aberta. Já as cenas de revolta popular e as mortes que Akin encaixa no seu apertado quebra-cabeças são o oposto. E não há como acomodar o cosmopolitismo bem-resolvido e o mal-estar da globalização num mesmo filme.

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