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Crítica

Crítica: A Woman, A Gun and A Noodle Shop

Zhang Yimou aprende com os irmãos Coen a não se levar tão a sério

26.09.2010, às 11H18.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 19H03

Até o pôster de A Woman, A Gun and A Noodle Shop (San Qiang Pai An Jing Qi), o novo filme do diretor chinês Zhang Yimou (Herói, O Clã das Adagas Voadoras), remete ao primeiro longa dos irmãos Coen, Gosto de Sangue (Blood Simple, 1984). É uma refilmagem bastante fiel - momentos antológicos como a limpeza do sangue do chão e os buracos de tiros na parede são reproduzidos - mas no fundo está mais para paródia do que para homenagem.

Se o cinema de Yimou perigava calcificar em 2006, quando ele voltou a filmar coreografias de China imperial em A Maldição da Flor Dourada, agora o diretor executa um golpe esperto. Traz um gênero típico dos EUA, como o policial de beira de estrada, para dentro do seu imaginário colorido, ridiculariza as solenidades que ajudara a defender naqueles épicos dos anos 2000 - e, por meio do humor autoreferencial, rejuvenesce a sua obra.

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A trama segue a mesma. Dono de bar desconfia que sua mulher o trai com um dos seus empregados, e decide contratar um detetive para matá-los. Aqui, o bar vira um restaurante de lamen (a única firula de artes marciais a que Yimou se permite é na hora de abrir a massa do macarrão). Os atos de carregar um revólver ou acender um cigarro continuam cheios de peso e significado - mas exigem métodos rústicos anteriores à invenção do isqueiro ou dos cartuchos industriais. Até o barulho de uma viatura policial Yimou consegue emular, pra caracterizar a sua cavalaria de oficiais de azul.

A troca de referências se encaixa com graça no cenário cartunesco que o diretor concebe, de personagens histriônicos e paisagens que parecem ilustradas com aquarela. As brincadeiras por si só, porém, não sustentam o filme. A Woman, A Gun and A Noodle Shop começa a ficar mais interessante (assim como o filme de 1984) quando a trama leva aos desencontros do marido, da mulher, do amante e do detetive. Quem viu qualquer filme dos irmãos Coen vai identificar o engenho: o acaso tem papel dominante e qualquer coincidência, por menor que seja, pode redefinir o futuro dos personagens.

A diferença aqui é que Yimou trata essa rede de acasos com desconfiança. Não só ironia e senso de absurdo, sempre presentes com os irmãos Coen, mas também com escárnio. Do universo fantástico de Yimou poderia se esperar, por exemplo, que um morto levantasse da cova a qualquer momento. Não faria sentido num filme policial "sério", mas aqui seria não só aceitável como até aguardado.

Aí, a participação do detetive é crucial, com seu vaivém cheio de preciosismos, tentando ocultar provas e apagar rastros. No meio de tantos tipos caricatos, o detetive se mantém sempre sisudo, impassível. Parece ser a única pessoa que leva a trama a sério. É como se fosse um personagem dos filmes anteriores de Yimou, com toda a sua solenidade, inserido nesse novo ambiente paródico. O choque é evidente, e o efeito cômico, duradouro.

Zhang Yimou aprendeu com os Coen, enfim, que às vezes o melhor é não se levar a sério demais.

Trailer

Nota do Crítico
Bom
Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão
A Woman, a Gun and a Noodle Shop
Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão
A Woman, a Gun and a Noodle Shop

Ano: 2009

País: China/Hong Kong

Classificação: 16 anos

Duração: 95 min

Direção: Yimou Zhang

Roteiro: Xu Zhengchao, Shi Jianquan

Elenco: Sun Hong-Lei, Chang Xiao Yang, Ni Da-Hong

Onde assistir:
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