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Crítica

Crítica: Tyson

Documentário-entrevista segue a cacofônica linha de pensamento do boxeador para tentar entendê-lo

25.09.2009, às 11H00.
Atualizada em 18.11.2016, ÀS 23H02

Já é naturalmente difícil buscar pela verdade de um entrevistado quando um documentário é feito de conversas cara a cara. O jogo de perguntas-e-respostas pode às vezes ser improdutivo - há dissimulação quando o entrevistado fica acuado, direcionamento em demasia quando o entrevistador dita a pauta. No caso de Tyson a situação se complica porque, bem, o ponto forte dos pugilistas não é o verbo.

Mike Tyson diz ao diretor James Toback que escuta vozes várias dentro da cabeça que em duas décadas, firme sobre um pescoço que é uma tora, chacoalhou menos do que a dos rivais. Ainda assim, Tyson se embaralha com as palavras. A forma encontrada pelo diretor para ser fiel a essa verborragia do ícone, até aqui poucas vezes articulada, é picotar a imagem em vários quadros menores ao mesmo tempo, com depoimentos simultâneos do boxeador.

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Esse derrame de confissões ajudou o diretor a aproveitar mais do material bruto, que certamente saiu de muitas horas de gravação - Tyson abriu a casa e o coração a Toback, o que rende até cenas inusitadas, como a caminhada na areia da praia, com a voz em off do boxeador explicando suas preferências na cama. Mas isso não significa que a montagem seja mais útil para entendermos como ele conseguiu destruir sua carreira fora do ringue. Na prática, a cacofonia mais serve para vermos que até o próprio Tyson deve desconhecer os fundos motivos de ter beijado a lona na vida, com casos de polícia e canibalismos televisionados.

A certa altura, por exemplo, Tyson atribui à morte do seu mentor, Cus D'Amato, e à sua consequente desilusão a derrota para Buster Douglas em 1990, mas no mesmo período as mulheres ocupavam espaço privilegiado na vida do esportista - e ele mesmo reconhece. É como se ele buscasse justificativas para os rumos que sua carreira tomou, mas Tyson sabe - e diz isso mais de uma vez no filme, em momentos distintos - que ele é o único culpado. A cada momento, uma perspectiva diferente de si mesmo.

A grande conquista de Toback talvez seja a confissão de Tyson, dada ao assistir ao filme pronto: "Vendo o documentário, entendo por que tanta gente me odeia". Esse auto-exame realmente é uma conquista, mas mais de Tyson do que do filme. É uma terapia que funciona, acima de tudo, para o entrevistado. Mas o documentário não adiciona muito ao que o resto do planeta sabe ou pensa do ícone. Na verdade, acaba mitificando-o mais.

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Nota do Crítico
Bom
Tyson
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Tyson
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Ano: 2008

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 90 min

Direção: Uli Edel

Elenco: George C. Scott, Paul Winfield, Michael Jai White, James Sikking

Onde assistir:
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