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Tulpan | Crítica

Assim como o vizinho Camelos também Choram, filme cazaque mistura fábula e documento para falar de raízes e cosmopolitismo

25.03.2010, às 19H31.
Atualizada em 13.11.2016, ÀS 09H00

Ainda que a paisagem não diga, os ritos de passagem nos descampados asiáticos são intensos. E ainda que a estepe do Cazaquistão nos pareça o lugar mais isolado do mundo, a virada na vida do protagonista de Tulpan está impregnada de Ocidente.

Askhat (Askhat Kuchencherekov) está voltando à estepe para se casar, mas é um estrangeiro em sua terra. Serviu na Marinha russa, tem muitas histórias sobre polvos gigantes pra contar, mas elas não dizem nada às pessoas do lugar. Pode haver algo mais alienígena do que um marinheiro num deserto? E Askhat é orelhudo demais. Sua pretendente o rejeita.

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O filme coescrito e dirigido por Sergei Dvortsevoy se desenrola em cima dessa situação fabular clássica do príncipe errante que faz de tudo para conquistar a sua princesa. A diferença para as histórias de castelos é que o príncipe mora com o cunhado numa tenda a 500 km da cidade mais próxima, e a princesa está a fim de fazer o caminho oposto, estudar na civilização.

Como em Camelos também Choram, filme mongol ambientado no vizinho deserto de Gobi, esse choque de anseios "ocidentais" contra a tradição local é que dá a essas pequenas histórias de passagem a sua intensidade - e a sua universalidade. A comparação entre os dois filmes, aliás, é assinalada no próprio site de Tulpan.

Mas se em Camelos também Choram o Ocidente surgia de forma documental - a visita das crianças à feira de bugigangas tecnológicas - em Tulpan a presença estrangeira é mais romanceada. Está principalmente no texto, nos delírios de Askhat em ter o seu próprio "rancho". E daí surgem também as principais situações de inteligente humor agridoce do filme: para convencer a família da noiva de que Askhat é um bom partido, por exemplo, um amigo mostra uma foto de outro príncipe orelhudo, Charles.

O que faz Tulpan transcender o batido tema do choque de culturas é o talento de Dvortsevoy para a observação e para a encenação naturalista. O momento ritual definitivo de Askhat envolve - assim como em Camelos também Choram - alguns animais em situações impossíveis de "inventar".

O documental então se infiltra num filme onde o fabular estava dando o tom, e os dois se conciliam de um jeito irresistível. Há, ao mesmo tempo, muita urgência e muito vagar poético em Tulpan, e - ao contrário da escolha entre a raiz e o cosmopolitismo que Askhat precisa fazer - nesse caso uma coisa não exclui a outra.

Nota do Crítico
Ótimo
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Ano: 2008

País: Alemanha, Rússia

Classificação: 10 anos

Duração: 100 min

Direção: Sergei Dvortsevoy

Elenco: Samal Yeslyamova, Tolepbergen Baisakalov, Ondas Besikbasov

Onde assistir:
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