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Crítica

Crítica: O Pecado de Hadewijch

Bruno Dumont faz o seu filme mais acessível, mas as perturbações continuam

16.09.2010, às 19H03.
Atualizada em 27.11.2016, ÀS 20H00

Saber que desejos latentes são uma constante nos filmes de Bruno Dumont tira um pouco do mistério do flashback final de O Pecado de Hadewijch (Hadewijch), mas não compromete a sessão desta que é uma acessível porta de entrada para o cinema do premiado diretor francês.

O filme abre com uma reforma dentro de um convento. Desce de guindaste uma armação para empilhar caixas que tem a forma de uma cruz de ponta-cabeça. Uma noção "invertida" do que é o cristianismo fará, minutos depois, a jovem Celine (Julie Sokolowski) ser expulsa do convento.

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Na sua justificativa, uma freira diz que a noviça rebelde é uma "caricatura de religiosa": afeita a penitências, Celine jejua o tempo todo, expõe-se ao frio do campo aberto etc. A freira decide que o melhor para a menina, no momento, é voltar à sociedade. "Não é necessário se afastar do mundo para se aproximar de Deus", diz a madre do convento.

Em Paris, desenrola-se então uma trama de causalidades bastante claras, para os padrões de Dumont. Celine, filha de um ministro francês, moradora de uma mansão na ilha Saint-Louis, no coração da cidade, conhece num café um adolescente desocupado da periferia, islâmico, de ascendência árabe. A cena em que Celine o convida para almoçar com os pais só didatiza o choque social.

Dá para entender daí que Celine escolhera a religião para renegar uma herança social que a constrange. Mas o fato é que a menina, seja em Paris ou nos conjuntos habitacionais dos banlieues que ela passa a frequentar, continua sofrendo das mesmas mazelas existenciais que a vitimavam no convento. A fé como consolação não serve para Celine. Bem ao modo Dumont, emoções não ditas comem personagens por dentro, e com Celine isso se traduz em martírio.

O Pecado de Hadewijch lida com temas complexos (o diretor deixa o interior da França e discute de frente o fosso que divide a capital) e controversos (falar de islamismo por si só hoje exige disposição), mas, assim como os longas anteriores do cineasta, que abordam desde crimes hediondos até os excessos da guerra, na essência Dumont está interessado no desejo. Mais especificamente, em como essa inabilidade em lidar com o desejo transforma, perversamente, todo o nosso modo de encarar o mundo.

Saiba onde O Pecado de Hadewijch está passando

Nota do Crítico
Ótimo
O Pecado de Hadewijch
Hadewijch
O Pecado de Hadewijch
Hadewijch

Ano: 2009

País: França

Classificação: 14 anos

Duração: 120 min

Direção: Bruno Dumont

Elenco: Julie Sokolowski, Yassine Salime, Karl Sarafidis, David Dewaele

Onde assistir:
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