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Crítica

Crítica: Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague

Documentário escrito pelo biógrafo dos dois cineastas coloca em discussão o pensamento crítico de ontem e hoje

27.05.2010, às 17H20.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 05H00

A herança legada pela crítica francesa - a noção de autorismo no cinema que persiste até hoje decorrente dos textos dos anos 50 e 60 da revista Cahiers du Cinéma - seria a mesma se não existisse a Nouvelle Vague? Se François Truffaut (1932-1984) não tivesse ganho em 1959 o prêmio de melhor diretor em Cannes por seu longa de estreia, seus textos como crítico ainda seriam lidos?

Parte exatamente de Os Incompreendidos - do plano-sequência final, com o close-up em Antoine Doinel na praia - o documentário Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague (Les Deux de La Vague). Há quem defenda que a revolução no cinema francês tenha começado em 1958, com Claude Chabrol, influenciada pelos ainda anteriores filmes de Jean Rouch, mas Os Incompreendidos é um símbolo de mais impacto. É o filme que prova que os enfants terribles da revista sabiam pôr em película o que argumentavam no papel.

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Ou seja, se ainda não houvesse essa cobrança infantil por uma suposta legitimidade de quem analisa filmes ("quem não sabe fazer critica", não é isso que se repete desde então?) ela passa a crescer, ainda que inconscientemente, a partir do sucesso da Nouvelle Vague.

Daí que, nestes 50 anos da Nova Onda francesa, o filme de Emmanuel Laurent - roteirizado pelo biógrafo tanto de Truffaut quanto de Jean-Luc Godard, Antoine de Baecque - se revela não apenas um registro precioso com imagens raras do movimento, como também um belo ensaio sobre o exercício crítico. Godard e Truffaut servem como protagonistas exemplares dessa história não só por serem as suas figuras mais notórias, mas por representarem uma polaridade de estilos cara a todo tipo de crítico.

Godard, no caso, é o iconoclasta, o contestador, a quem melhor se encaixa a definição atribuída a Roland Barthes: "criticar é pôr em crise". Truffaut não deixa de ser inconformado, mas representa melhor o lado mais aderente da cinefilia, está mais próximo da frase de Jean Douchet: "crítica é a arte de amar". O escriba mais completo luta para conciliar ambas as definições. Enquanto cineastas, Godard e Truffaut colocaram essas filosofias em prática, e foram elas que os separaram.

O filme de Laurent volta o tempo todo a Doinel e a Os Incompreendidos para dar uma cara mais sentimental (e a completa elegendo uma moça de belos olhos, à moda da Nouvelle Vague, para ser testemunha privilegiada) a essa narrativa que tem muito de cerebral. Mas não se deixe enganar pela emoção. O próprio Doinel, numa das melhores cenas do filme, resume a postura francesa frente ao mundo, quando o ator Jean-Pierre Léaud, 14 anos recém-completos, diz que desejava entrar no mundo do cinema para "ver os erros nos filmes bons, e não se distrair".

Saiba onde o filme está passando

Nota do Crítico
Ótimo
Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague
Les Deux de La Vague
Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague
Les Deux de La Vague

Ano: 2009

País: França

Classificação: 12 anos

Duração: 91 min

Direção: Emmanuel Laurent

Roteiro: Antoine de Baecque

Elenco: Jean-Luc Godard, François Truffaut

Onde assistir:
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