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Crítica

Crítica: Distante Nós Vamos

Novo filme de Sam Mendes está mais para "o filme de Eggers e Vendela"

25.09.2009, às 11H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 21H00

Tenho duas maneiras de resenhar Distante Nós Vamos (Away We Go), o novo filme do diretor Sam Mendes.

A primeira é a mais isenta, na qual eu lhe explico que se trata do quinto filme do diretor - oscarizado dez anos atrás por Beleza Americana. Que a relação mais próxima de Distante Nós Vamos é com o seu projeto anterior, Foi Apenas um Sonho. Os dois filmes tratam de casais que passam por algum tipo de crise pessoal, e que começam a procurar pelo mundo as decisões a tomar.

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No caso, Burt (John Krasinski) e Verona (Maya Rudolph) são o casal de 30 e poucos anos que espera o primeiro filho. Moram próximos à casa dos pais dele - os dela já são falecidos - pensando na ajuda de que precisarão em breve. Mas os velhos ripongas acabam de anunciar que vão se mudar para a Bélgica por dois anos, deixando o neto e o jovem casal à sua própria sorte.

Burt e Verona têm empregos bastante flexíveis - ela ilustra livros de anatomia em casa, ele é analista financeiro e faz tudo por telefone -, então decidem sair pelos EUA à procura do melhor lugar para ter e criar o filho. De preferência, com família ou amigos por perto.

Segue um road movie onde eles vão encontrar abordagens totalmente contrastantes sobre como ser pais, bem como sobre a vida de casados. Como em todo filme-de-estrada, é uma viagem de formação, onde eles entram em contato com suas identidades e seus possíveis futuros - que vão do hilário ao comovente ao assustador.

A outra forma de resenhar o filme é um pouco mais pessoal. O roteiro é do casal Dave Eggers e Vendela Vida, ambos romancistas de renome nos EUA. Eggers é um dos meus escritores prediletos desde que reinventou o gênero autobiográfico em Uma Comovente Obra de Espantoso Talento (publicado no Brasil em 2003). A maioria de seus livros, como A Fome de Todos Nós (coleção de contos) e O Que é o Quê, foram lançados por aqui. Junto a Vida - cujos livros, como Let the Northern Lights Erase Your Name, nunca aportaram aqui -, ele comanda a McSweeney's, um coletivo literário que publica revistas, livros, um site e muito do que melhor se escreve nos EUA hoje.

Com a McSweeney's, eles puxam uma tendência indie nos círculos criativos norte-americanos, que reinventa forma e temas com pose blasé (pretensiosa, mas com cara de despretensiosa), aliado a um engajamento político fortalecido pela era Bush. Jonathan Safran Foer (Extremamente Alto e Incrivelmente Perto), Gary Shteyngart (Absurdistão) e outros seguem essa linha na literatura. No cinema, os melhores representantes são Alexander Payne (Sideways, As Confissões de Schmidt), Wes Anderson (Viagem a Darjeeling, A Vida Marinha com Steve Zissou), Jason Reitman (Juno, Obrigado por Fumar) e Spike Jonze - com quem o próprio Eggers roteirizou o esperado Onde Vivem os Monstros.

Filtrado por essa referência pessoal, o filme parece puxar mais para um produto de Eggers e Vida do que de Mendes (mesmo que, em entrevistas, o diretor revele que tenha mexido bastante no roteiro durante as filmagens - incluindo o final). Some o fato do casal protagonista ser interpretado por figurinhas em destaque na comédia intelectualizada dos EUA - Krasinski é o Jim de The Office e Maya, namorada de Paul Thomas Anderson, foi do Saturday Night Live - e você chega a algo que tem mais a ver com as boas "dramédias" como Juno do que com as legítimas tragédias a que Mendes estava acostumado.

Não há assassinatos, nem cabides abortivos, nem sangue - os halteres dramáticos de que Mendes, como diretor teatral acostumado a Shakespeare e Tchékhov, abusa nos seus filmes. A cena de maior peso emocional acontece no momento em que Burt e Verona parecem ter encontrado o lugar certo, mas descobrem que seus amigos vivem uma tristeza tão profunda que pode infectá-los.

A cena tem uns dois minutos, com várias trocas de olhares carregados e poucas linhas de diálogo durante uma dança ao som de "Oh Sweet Nuthin?", do Velvet Underground. Não tem sangue, nem morte, nem qualquer choque na plateia. Mas carrega uma dor que, quem já leu Eggers, vai reconhecer de seus livros.

Da mesma forma, o humor liberal da McSweeney's está desde a primeira cena, em que os protagonistas descobrem da forma mais original na história do cinema que estão grávidos. Só esse início, mais a cena da dança, já valem o filme.

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Nota do Crítico
Ótimo
Distante Nós Vamos
Away We Go
Distante Nós Vamos
Away We Go

Ano: 2009

País: EUA, Inglaterra

Classificação: 14 anos

Duração: 98 min

Direção: Sam Mendes

Roteiro: Dave Eggers, Vendela Vida

Elenco: John Krasinski, Maya Rudolph, Carmen Ejogo, Catherine O'Hara, Jeff Daniels, Allison Janney, Jim Gaffigan, Samantha Pryor, Conor Carroll, Maggie Gyllenhaal, Josh Hamilton, Bailey Harkins, Brendan Spitz, Jaden Spitz, Chris Messina

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