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Crítica

Crítica: Diário Perdido

Três gerações de mulheres em um retrato de dilemas femininos, mas sem cair na panfletagem feminista

25.03.2010, às 19H35.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 04H10

Em Diário Perdido (Mères et Filles, 2009), Audrey, uma bem-sucedida desenhista de eletrodomésticos, tira férias de seu emprego no Canadá e retorna ao vilarejo francês à beira-mar onde nasceu para visitar sua família. Em uma interpretação muito entregue de Marina Hands (Lady Chatterley, O Escafandro e a Borboleta), a personagem parece retornar ao lar em busca de respostas, mas para isso precisa antes da coragem para se questionar.

Devido à relação conturbada que tem com a mãe, vivida por Catherine Deneuve, Audrey decide se hospedar na casa do falecido avô. Lá ela encontra um antigo caderno, mofado e manchado pelo tempo, que havia pertencido à sua avó Louise. A figura da avó sempre foi um mistério na família, a pessoa sobre quem não se fala, uma vez que citá-la inevitavelmente levantaria questionamentos sobre os motivos que a levaram a deixar a casa, o marido e os filhos repentinamente e nunca mais dar notícias.

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Nas páginas do diário, entre receitas culinárias e anúncios dos anos 1950, Audrey começa a descobrir indícios que levaram à partida misteriosa de Louise. Descobre que a avó sentia-se insatisfeita em seu cotidiano de esposa e que a linda casa litorânea com cozinha de design arrojado era, para ela, uma prisão. No entanto, uma peça do quebra-cabeças não se encaixava: se planejava deixar o marido, por que Louise havia partido sem nenhum de seus pertences e, acima de tudo, sem o caderno, que escondia entre suas páginas uma grande quantia em dinheiro?

Desvendar o segredo da avó se entrelaça então aos dilemas de Audrey, afetando especialmente sua relação com a mãe. Martine se recusa a falar sobre sua própria mãe e deixa o recinto toda vez que o nome "Louise" é mencionado. É este triângulo de gerações que move a trama: Audrey sofre com a angústia da dúvida e o peso de uma grande decisão pendente, Martine com um segredo preso na garganta e Louise, que poderia ajudar nas respostas, partiu sem nem sequer dizer adeus.

É na condução dos atores que está o maior mérito da direção de Julie Lopes-Curval. Em uma narrativa essencialmente feminina, Marina Hands, Catherine Deneuve e Marie-Josée Croze, que interpreta Louise em vislumbres do passado, lidam com a angústia de ser mulher e, parafraseando Simone de Beauvoir, a busca de realizar-se como ser humano dentro da condição feminina.

No entanto, o filme passa longe do feminismo - até porque vivemos tempos demasiado despolitizados para tal discussão - e leva os dilemas da feminilidade para o interior do indivíduo. Neste aspecto, o título original Mères et Filles, que em português seria Mães e Filhas, parece muito mais adequado e universal. Colocando em pauta o conflito da mulher em conciliar suas ambições pessoais e profissionais ao papel biológico de seu gênero, o filme dialoga com todas as mulheres da platéia - simplesmente por contar a história daquelas três mulheres.

Nota do Crítico
Ótimo
Diário Perdido
Mères et Filles
Diário Perdido
Mères et Filles

Ano: 2009

País: França

Classificação: 14 anos

Duração: 105 min

Direção: Jon Turteltaub

Elenco: Nicolas Cage, Jon Voight, Harvey Keitel, Ed Harris, Diane Kruger, Justin Bartha, Helen Mirren, Bruce Greenwood, Ty Burrell, Albert Hall, Joel Gretsch

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