Já faz tempo que a produção de vanguarda da Argentina deixou de ser lançada no Brasil. Nomes como Lisandro Alonso e Celina Murga seguem inéditos no circuito. O que chega aqui do cinema latinoamericano, de modo geral, agora costuma vir acompanhado da frase promocional "o filme mais visto do ano".
No caso de Alguns Motivos para Não se Apaixonar, a "segunda maior bilheteria do cinema argentino em 2009", a frase deve servir de aviso. Ela indica que a chance de deparar com clichês de comédia romântica não só é maior como quase certa.
alguns motivos para não se apaixonar
alguns motivos para não se apaixonar
Na trama, a atendente de telemarketing Clara (Celeste Cid) não leva sorte com os homens. Para piorar, precisa, de uma hora para outra, procurar um lugar para viver. Nas comédias românticas, mesmo as cidades mais espaçosas, como São Paulo ou Nova York, viram quase um vilarejo, para facilitar que o acaso aconteça a cada esquina. Aqui, uma série de coincidências acaba levando Clara a morar com o típico viúvo ranheta bonaerense (Jorge Marrale).
A melancolia característica dos argentinos se impõe não só pelo tema - o senhor de meia-idade encontra na jovem desiludida um par para sua tristeza - mas também pela forma. O diretor Mariano Mucci desbota as cores já meio amareladas de cenários e objetos para ressaltar o clima nostálgico. O problema de Alguns Motivos para Não se Apaixonar é que a nostalgia que o filme diz sentir está mais do que manjada.
Dá pra enumerar nos dedos os momentos: nostalgia daqueles "tempos bons e simples" (retrato pintado da amada, casa na praia), nostalgia das "associações poéticas" (relação artista-musa), do "amor à moda antiga" (correr da chuva, vinho diante da lareira), nostalgia das paixões de modo geral (todo mundo pode ser feliz se souber cozinhar, ensinam esses filmes).
São típicas situações planejadas para pegar o espectador casual de Dia dos Namorados. Faz parte; não dá pra ir contra a regra do jogo. Só que para cada instante decente (a nossa identificação com atores argentinos é facilitada porque eles são bons e, principalmente, livres da saturação de que sofrem celebridades brasileiras e hollywoodianas) há outros medíocres (falas do tipo "vamos parar antes que seja tarde" / "já é tarde"...).
A única vantagem, neste caso, se você estiver sozinho(a) num Dia dos Namorados, é que dá pra levar no filme a sua avó. Elas costumam adorar esses filmes argentinos empoeirados.
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Ano: 2008
País: Argentina
Classificação: 12 anos
Duração: 90 min