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Canções de Amor | Crítica

Sem medo de apostar no musical, Christophe Honoré se firma como um dos grandes da sua geração

04.09.2008, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H39

Em Paris (2006) tem uma cena que flerta com o gênero musical, quando o casal separado canta uma canção pelo telefone. Já valia como aviso. Em seu filme seguinte, Canções de Amor, o diretor Christophe Honoré, um dos grandes nomes da nova geração do cinema francês, abraça o musical de vez.

Vale como aviso porque o público tende a rechaçar o gênero. Mas o caso é que compensa deixar o preconceito de lado e dar uma chance ao filme, tentar entender por que Honoré escolheu esse formato específico para contar a história de um triângulo amoroso casual que termina em compromisso.

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Se a questão é desfazer preconceitos, outro aviso: não é o cancioneiro brega europeu, de um Charles Aznavour ou de um A Coragem de Amar (2005), que pontua o filme, e sim o mesmo pop moderno a que Honoré já recorreu em Em Paris. Não é coincidência. O compositor da trilha de Canções de Amor, Alex Beaupain, de 34 anos, ficou famoso justamente por escrever músicas para os filmes de Honoré, de 17 fois Cécile Cassard (2002) a Em Paris.

Beaupain consegue traduzir em rimas a visão que Honoré tem dessa turbulenta experiência que é estar com alguém. Ismaël (Louis Garrel) namora Julie (Ludivine Sagnier) há oito anos, mas ela se ressente por nunca ter recebido dele uma carta apaixonada. Em uma das letras das músicas, Garrel canta (todas as canções são interpretadas pelo elenco) que sua vocação é "amar pela beleza do gesto", um amor sem passado e sem futuro, enamorar-se com o momento.

Esse "descontexto" de Ismaël talvez incomode Julie, não sabemos. Sabemos é que o filme começa já com outra mulher adicionada à relação: Alice (Clotilde Hesme). Honoré brinca com aquela imagem clássica da Nouvelle Vague: enquadra de frente os três deitados na cama, cada um lendo um livro diferente - e trocando os livros entre si. É outro preconceito que se desmonta. A mania de "intelectualizar" a discussão da relação, que associamos com o cinema francês, é motivo de piada em Canções de Amor.

Relações foram feitas para ser vividas, não discutidas. Esse é o mote não-dito de Ismaël, e o conflito que conduz a trama de Canções de Amor se impõe quando os outros personagens exigem que Ismaël ordene tudo o que ele sente por Julie. Ao amante, a Ismaël, importa a experiência. Os outros querem de Ismaël algo que ele não sabe dar: a memória.

Além de filmar muito bem a interação do elenco, o movimento dos corpos, Honoré sabe pegar de Paris o que a cidade tem de essencial, essa quase obrigação de viver intensamente todos os segundos sem parar. Nas suas andanças existencialistas pela cidade, Ismaël cruza com letreiros que chamam a se emocionar: "cry me a river". Mas como "chorar um rio" por alguém quando a própria Paris ensina que pode-se amar todo mundo ao mesmo tempo sem distinção?

Nota do Crítico
Excelente!
Canções de Amor
Les Chansons d´Amour
Canções de Amor
Les Chansons d´Amour

Ano: 2007

País: França

Classificação: 12 anos

Duração: 100 min

Direção: Christophe Honoré

Roteiro: Christophe Honoré

Elenco: Louis Garrel, Ludivine Sagnier, Chiara Mastroianni, Clotilde Hesme, Brigitte Roüan, Alice Butaud, Jean-Marie Winling, Yannick Rénier, Annabelle Hettmann, Esteban Carvajal-Alegria, Sylvain Tempier, Guillaume Clérice, Grégoire Leprince-Ringuet

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