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As Chaves de Casa | Crítica

As chaves de casa

MH
26.01.2006, às 00H00.
Atualizada em 25.11.2016, ÀS 08H01

As chaves de casa
Le Chiavi di Casa
Itália/França/Alemanha, 2004
Drama - 105 min

Direção: Gianni Amelio
Roteiro: Sandro Petraglia, Gianni Amelio e Stefano Rulli, baseado em livro de Giuseppe Pontiggia

Elenco:
Kim Rossi Stuart, Andrea Ross, Charlotte Rampling, Alla Faerovich, Pierfrancesc, Manuel Katzy, Michael Weiss

As dedicatórias nos créditos iniciais de As chaves de casa (Le chiavi di casa, 2004) logo chamam a atenção.

O filme é assinado em memória do escritor Giuseppe Pontiggia (1934-2003), cuja história real de sua vivência com o filho deficiente, Andrea, deu origem ao livro Nati due volte (Nascer duas vezes), que por sua vez inspira a película. Andrea Pontiggia é lembrado na dedicatória, assim como seu xará, Andrea Rossi, também deficiente físico e transformado em ator para participar da produção.

Tantas relações afetivas fora da tela podem sugerir uma obra coloquial, rendida, lacrimosa. O próprio diretor calabrês Gianni Amelio, de 61 anos, empresta seu nome ao personagem principal. Relato personalista, pode parecer. Mas é justamente o oposto: ao invés de lacrimoso e rendido, um tom contundente, direto e sem apelação; ao contrário de coloquial e personalista, uma história universal, de expiação de culpa e aceitação.

A narrativa começa com Gianni (Kim Rossi Stuart, de Além das nuvens) recebendo do cunhado uma fotografia e umas instruções. A foto é de Paolo (Rossi), menino de quinze anos criado pelos tios, o filho que Gianni nunca viu. Dá para perceber no rosto do homem que ele se constrange (não necessariamente se arrepende) de ter abandonado a criança depois da morte da mãe. Agora a chance de corrigir a omissão aparece na frente do pai ausente.

Da Itália, Gianni precisa levar Paolo a um hospital para deficientes físicos e mentais em Berlim. Exames cerebrais de rotina, fisioterapia para as pernas frágeis do menino. O primeiro contato entre os dois estranhos dentro do trem continental não é tão traumático quanto o pai imaginava. Depois ele reflete: Paolo se apegaria a qualquer um que passasse alguns minutos lhe dando atenção. Conversam, brincam, e só. A certa altura da viagem, Gianni telefona para sua atual esposa, mãe de seu segundo e saudável filho, para dar notícias - afinal, a vida que ele escolhera ficou à sua espera em Milão.

Assim, de uma quase obrigação, um desencargo de consciência, o filme aos poucos aprofunda a conexão entre os dois. A transição é vagarosa, freqüentemente retrocede, como nos bons filmes-de-estrada. Não acompanha a viagem em tempo real, obviamente, mas sabe dar tempo às coisas. A experiência não é fácil, nem para Gianni, muito menos para o espectador. A câmera examina Paolo sem pudor, passa em closes, se fixa na pele, acompanha quando ele caminha, sem cortes desnecessários ou planos demasiadamente elaborados. Simplesmente o observa - o que já é bem angustiante.

No hospital, uma senhora (interpretada com segurança pela ótima Charlotte Rampling) puxa conversa com Gianni. Ela se espanta, diz que esse tipo de trabalho sujo fica sempre com a mãe, nunca com o pai. Ela conta sua história, lhe empresta um livro - que não por acaso é o Nati due volte, de Pontiggia. Explica que vive há vinte anos em função da filha, que mal se comunica. Diz a Gianni para não se preocupar com os problemas que o filho enfrentará na vida adulta: A debilidade sempre o protegerá das pessoas, é você quem deve se preparar para sofrer.

Gianni não está pronto para sofrer, e As chaves de casa é, no fundo, a história dessa preparação. A grande conquista do diretor Amelio é, sempre de modo muito sincero, deixar claro que cuidar de um filho deficiente é uma espécie de castigo, de ingratidão. Ele não tenta florear a situação, nem simplificá-la. Há grandes sacrifícios, como também há pequenas felicidades. No caso de Gianni, o que um dia foi sentimento de culpa se transforma em redenção.

É como se ele, condenado, se penitenciasse por anos à espera da pena. Uma vez recebida, ele a cumprirá com vislumbre de liberdade.

Omelete Recomenda

Nota do Crítico

Bom
Marcelo Hessel

As Chaves de Casa

Le Chiavi di Casa

2004
105 min
Drama
País: Itália, França
Classificação: 10 anos
Direção: Gianni Amelio
Elenco: Kim Rossi Stuart, Andrea Rossi, Alla Faerovich, Pierfrancesco Favino, Manuel Katzy, J. Michael Weiss, Ingrid Appenroth, Dimitri Süsin, Thorsten Schwarz, Eric Neumann, Charlotte Rampling
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