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Antes Só do que Mal Casado

Humor de Bobby e Peter Farrelly perde espaço para receita romântica brocrática

08.11.2007, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H30

Tomara que um dia Bobby e Peter Farrelly consigam dirigir uma versão de Os Três Patetas, como há anos planejam. Eles precisam mesmo de um filme que seja 100% feito de gags, porque contar historinhas como a de Antes só do que Mal Casado (The Heartbreak Kid) definitivamente não é a praia dos irmãos.

O remake de Corações em alta (The Heartbreak Kid, de Elaine May, 1972) acompanha Eddie Cantrow (Ben Stiller), sujeito com os seus trinta e tantos anos que não consegue se comprometer com o sexo oposto. Enquanto amigos e ex-namoradas se casam, Eddie fica implicando com pormenores da vida a dois. O desespero bate, e ele reage sem pensar: casa-se com Lila (Malin Akerman) semanas depois de conhecê-la.

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Já no caminho para a lua-de-mel, numa praia paradisíaca no México, Eddie se dá conta do erro: Lila não tem nada a ver com ele. Para completar, no hotel o cara conhece e se apaixona por Miranda (Michelle Monaghan, de Missão: Impossível 3), essa sim sua cara-metade. Daí começa aquela correria para esconder uma mulher da vista da outra, etc. O script de sempre.

Antes só do que Mal Casado é o primeiro filme dos Farrellys em quase dez anos estrelado por Stiller, desde Quem Vai Ficar com Mary? (1998). Há algumas semelhanças entre os dois filmes - loiras desvairadas, duelos com animais, fluidos corporais tratados com prosaísmo - mas o saudável descompromisso do roteiro do filme de 1998 não existe mais.

Talvez Hollywood exija hoje dos Farrellys histórias mais formatadas (ou mais "adultas" do que um Ligado em Você), ou talvez os próprios roteiristas/diretores estejam atrás das receitas que o público procura, mas o fato é que existe ali em Antes só do que Mal Casado um fio dramático que precisa ser puxado adiante, e os irmãos executam a tarefa com burocracia e autoreferências - e tome tomadas aéreas de estradas e praias, música soft pop e diálogos constrangedores ("Só quero ouvir uma coisa! Diga que não me ama!").

Houve um tempo em que os Farrellys implodiam esses sentimentalismos (mais exatamente, o tempo de Eu, Eu Mesmo & Irene e O Amor é Cego), como se pegassem o gênero de sequestro para veicular suas piadas, mas a lógica se inverteu. Antes só do que Mal Casado não é uma comédia romântica, mas um romance com humor.

Justiça seja feita, as piadas sobreviventes são ótimas, e comprovam a genialidade dos irmãos para reinventar a linguagem humorística. O exemplo desta vez são as "não-piadas", frases que os personagens proferem e não sabemos se são sérias ou brincadeira... A piada só vem (ou não) com a confirmação, o que já é quase uma "pós-piada". Bobby e Peter Farrelly precisam urgentemente de liberdade para pensar gags assim, sem se preocupar com tramas.

E precisam botar na cabeça que comédia "adulta" não tem necessariamente que ser aborrecida, como essa crise existencial pela qual passa o personagem de Stiller. Se os Farrellys passassem o resto da carreira fazendo "infantilidades" como Débi & Lóide já teriam assegurado lugar entre os maiores criadores da história do cinema.

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