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A Vida Secreta das Palavras

Drama de Isabel Coixet tem miolo brilhante, mas erra nas pontas

14.06.2007, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H25

Sem conhecer detalhes do filme, confiando apenas no marketing, não dá pra ver a pedrada chegando em A Vida Secreta das Palavras (La Vida Secreta de las Palabras, Espanha, 2005). O pôster, o trailer, a sinopse, tudo insinua o drama romântico da semana. Não é. Mas há pistas por todos os lados que indicam o contrário.

A começar pela diretora, Isabel Coixet, que fez o intenso Minha Vida Sem Mim em 2003. Não por acaso, no elenco do novo filme está Sarah Polley, também a protagonista do filme anterior. E eis que surgem Tim Robbins, cujo nome está sempre associado a filmes fortes, e o espanhol Javier Cámara (lembra dele em Fale Com Ela e Má Educação?). E por falar em Almodóvar, os irmãos Agustín e Pedro produzem o filme... e os rolos de fumaça prenunciando o sofrimento sobem no horizonte, feito uma das mais belas cenas do filme, quando Hannah (Polley), sentada num banco à beira mar, observa uma distante plataforma de petróleo.

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Ela ainda não sabe disso, mas a instalação em alto mar está semi-abandonada depois de um incêndio - e uma coincidência a levará até lá, para tratar, como enfermeira, de um dos sobreviventes. Josef (Robbins), a vítima, está temporariamente cego e com o corpo coberto por queimaduras.

O roteiro de Coixet é brilhante em esconder todo o passado de Hanna durante o filme. Não há uma só informação sobre ela, além de seu sotaque do leste europeu e a necessidade de uso de um aparelho de surdez (que é desligado quando ela quer ficar sozinha). Hanna não falta ao trabalho, não se relaciona com os colegas e come todos os dias arroz, frango e maçãs. Mas essa vida sem sal, sem sabores (a culinária, não por acaso, será uma grande metáfora adiante), esconde um segredo, que demora a ser revelado, mas é catártico (qualquer comentário a esse respeito arruinaria o filme, portanto, fico calado). O despertar de Hanna está ligado à pequena e curiosa comunidade oceânica.

A diretora extrai de seus atores interpretações notáveis, emocionantes (não estranhe se ouvir soluços abafados no cinema), e deixa brilhantemente a dolorosa e solitária fotografia novamente nas mãos competentes de Jean-Claude Larrieu (também de Minha Vida Sem Mim). Como roteirista, no entanto, ela ainda precisa se aprimorar - e bastante. Apesar do miolo brilhante, o drama começa e termina absolutamente equivocado, primeiro com uma constrangedora cena de "ação" (o citado incêndio), seguido por uma esquisitíssima narração em off; e depois, lá no final, com o retorno daquela voz estranha (e sua explicação). Tudo absolutamente dispensável. Se limadas essas cenas, que destoam totalmente do restante do filme, Coixet teria em suas mãos um dos melhores dramas recentes, mas a mão pesada nesses momentos torna a experiência toda bem menos impactante.

Chega a ser engraçado como 30 segundos no começo e 2 minutos no final podem fazer toda a diferença entre um filme excepcional ou outro apenas bom. Uma dica? Chegue atrasado e saia correndo depois da cena do abraço. Vai ficar realmente espetacular.

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